Nessa última segunda-feira, pela noite, assisti dois programas na Band que mostram uma dificuldade crônica que muitos brasileiros têm de lidar com sua identidade nacional.
O primeiro programa era um reality show (Mulheres Ricas): um grupo de mulheres ricas e esnobes que apresentam seu estilo de vida. Uma ridícula chorando por ter perdido sua Barbie personalizada, uma deslumbrada viciada em champanhe na companhia de seu cabeleireiro "full time"... E assim vai!
Este programa atenta contra toda norma de bom senso. Num país que luta para dizimar a miséria e o analfabetismo, é de péssimo tom vangloriar os excessos, as futilidades de uma minoria que pode pagar para um mestre de cozinha servir seu almoço em casa ou por um vinho que custa a renda mensal de um trabalhador braçal.
O segundo programa é mais dinâmico, mas igualmente fútil. Mostra como os brasileiros se viram no exterior. O programa chama-se O mundo segundo os brasileiros. Assisti o episódio que retratava o cotidiano de Miami, a cidade mais latina dos EUA. Detalhe: todos os entrevistados eram pessoas finas, educadas e muito bem estabelecidas na cidade. Nada de ilegais, de pobres, de manicures, de desesperançados.
No geral, todos os entrevistados tratavam de enaltecer o jeito americano de viver. Saudades do Brasil? Só da comida e da alegria. De resto, a grande maioria queria era distância das terras tupiniquins. Um dupla de mulheres chegou a ser ofensiva com o Brasil. Diziam que Miami era uma Rio melhorada, sem arrastões.
São programas como estes que prestam um desserviço para a população. Cria-se a ideia de que ser rico é sempre melhor, de que o estrangeiro é sempre melhor, de que nós somos uma sub-raça inculta, fadada à ignorância. Lastimável...