16.1.12

[alhures]...cracolândia, uma cidade invisível (trecho)

(Uma "palhinha" do meu novo artigo para o Mensageiro de Santo Antônio)

"De forma romanceada, já fomos alertados por Italo Calvino que toda grande metrópole carrega escondida, por toda parte, cidades invisíveis nem sempre contempladas. Ruas, praças, mercados e alamedas são multifacetados. Os diversos viajantes que percorrem esses lugares encontram significados, nuances, perspectivas inauditas. E, quando retornarem às suas paragens, reconstituirão suas memórias ao sabor da sensibilidade de seus ouvintes: coisas serão ignoradas, aspectos serão superexaltados, discursos serão resumidos. Pois, como nos diz o escritor italiano, “quem comanda a narração não é a voz: é o ouvido” (Italo Calvino, As cidades invisíveis).

De maneira correlata ao pensamento de Calvino, a grande cidade de São Paulo (narro esta por ser a que me é próxima ou, permanecendo na linguagem de Calvino, é a minha Serenissima Venezia) é uma colcha de cidades invisíveis, é um imenso atlas heterogêneo: a cidade dos nordestinos, dos orientais, dos turcos, dos italianos, dos portugueses e espanhóis, dos judeus e muçulmanos, dos distantes e vizinhos, dos miseráveis e magnatas, da chuva e da poluição, do verde, do cinza, e de todas as cores. Mas, essa Pauliceia Desvairada é também, e lamentavelmente, a cidade dos viciados em crack. (...)"