[realidades inventadas]...a senhora ordenada

Chegou ao restaurante. Escolheu cuidadosamente um prato numa pilha de objetos idênticos. O mesmo fez com os talheres reluzentes. Na sessão de saladas, escolheu com esmero cada folha de alface, de rúcula. Colocou no seu prato as mais perfeitas fatias de tomates secos. Regou tudo com abundante azeite e com um leve toque de variadas especiarias. Tudo tão meticuloso, tão exato.

Após preparar seu prato de saladas, este merecia uma foto. Era uma pintura com traços assimétricos dignos do gênio Monet. Tudo tão belo, tão meticuloso e tão chato.

Escolheu um lugar num canto do imenso salão vazio. Organizou a mesa, segurou os talheres e em pequenas bocadas degustou seu manjar vegetariano. Tudo tão exato, tão preciso e tão inerte.

No meio de uma vida tão desiludida alguma coisa deveria permanecer bela. Nem que fosse apenas um prato de salada.