Quando aportei em Fria tive a ligeira impressão de que já conhecia aquelas paragens. Tudo parecia-me familiar: praças, ruas, barcos e pessoas.
Não perdendo tempo tratei logo de estabelecer comunicação com os habitantes locais. Para minha surpresa, eles não compreendiam meu idioma. Eu falava e falava e a única resposta que podia perceber era a indiferença das pessoas que habitavam aquela cidade bela e fria.
Andando pelas ruas e becos de Fria, passei a perceber que estava sozinho no meio de uma multidão. Um sentimento de desamparo e solidão passou a percorrer meu peito. Fria mostrava sua face maligna: ela era uma cidade fria para todos os estrangeiros.
Na praça central da cidade, onde sacrificavam queimados os hereges, percebi que aquela era uma cidade para poucos. Imensos arranha-céus brotavam da terra como ervas daninhas. A cidade havia se tornado um canteiro de obras. Espaços vazios e inabitados pululavam por todos os cantos. Toda indiferença era traduzida em monumentos para a posteridade.
Todo aventureiro que cruzar as muralhas de Fria irá sentir a solidão e a indiferença. Fria revela, no peito de cada um, os medos mais entranhados de cada existência. Fria, além de ser gelada, é fria e não possui sentimentos.