Nietzsche já nos aponta para relação conflituosa entre a verdade e a mentira...
Quem quer a verdade, com toda sua crueza? Quem aceita a mentira, como um bálsamo para a consciência e refrigério para os sentimentos?
Quero a verdade, toda a verdade, somente a verdade. Será que estou pronto para recebê-la de peito aberto? Será que posso suportar tamanho impacto? Será que carrego em mim o real desejo pela verdade?
Talvez seja melhor refugiar-me nos meandros acolhedores da ignorância, na suavidade da ingenuidade, no tentador "me engana que eu gosto".
Afinal, quem engana quem? Quem está mais preso às aparências e à comodidade do já conhecido.
Temo que ao não fazer escolhas, estas façam a mim. Temo que se eu solicitar a verdade, ela caia sobre minha existência e retire meu chão. Dúvida, dúvidas, oh malditas dúvidas que dilaceram a alma e produzem o entorpecimento.
O que significa a palavra amor? Como se mostra, se demostra ou se simula algo tão sagrado? Isso não será um luxo, com bem diz Adélia Prado?
A vida é assim: com seus prazos de validade, com sua raridade, com suas sutilezas e fragilidades. A vida é rara e nosso coração é itinerante.
Acho que já não quero nem verdade, nem mentira. Quero o sono dos justos. Quero um afago, um secreto carinho, um visível sorriso, uma conversa banal. Chega de luxos de promessas eternas, de sentimentos verdadeiros, de sinceros diálogos.
Mas, as coisas devem ser ditas. Elas estão lá fora - e aqui dentro - gritando por revelações, por auto-sabotagens, por palavras e enigmas e por decifrações. Que as palavras sejam ditas, que Pandora libere todo conteúdo de sua caixa, que o mundo entre no caos criativo em que digladiam a verdade e a mentira. É assim que tem que ser. É assim que será. Os fios das Moiras nos impelem a isso.
Aceitemos a vida com ela é. Aceitemos nossa existência. Aceitemos as palavras que nascem da boca do mundo, das entranhas do universo. É assim que é e será. Amor fati!