É difícil partir quando se quer ficar
É impossível ficar quando se quer urgentemente partir
Vida em partidas e chegadas
Vida em encontros e desencontros
Partir, chegar, ficar ou sofrer
Vida com vendaval
Coração instável
Volúvel
Vida lançada a sorte do devir
Vida acalentada pelo carinho restaurador
Já vai?
Não vá!
Fique um pouco mais...
Vida sem parada
Vida presa ao cotidiano
Bússola, âncora, mastros e velas
Vento de proa
Adeus! E seja seja bem retornado!
28.8.15
14.8.15
[reflexões]...o amor
O texto hebraico bem diz: "O Amor é mais forte que a morte". O amor surge sorrateiramente e forte na alma. Como uma doença se espalha por todo o corpo. Aloja-se no coração, mudando os compassos do viver. Aloja-se na mente, criando uma ânsia incontrolável.
Esse amor, filho da abundância e da carência, é sempre insatisfeito, sempre incompleto. Ora manisfesta sua altivez e nobreza, ora se desfaz em sua completa mendicância e pobreza.
O amor enlouquece, engrandece, adoece e plenifica.
Só entende a sua magia quem já amou. Só aceita sua sandice que já em seu braços enlouqueceu.
Em um mundo gravido de tanto ódio, o amor dança sutilmente pelas ruas. Somente o vê, o percebe, o toca aqueles que abrem-se plenamente ao novo, ao desestruturante artifício divino de incessantemente criar inusitados mundos.
O verdadeiro amor nada exige, a tudo se sujeita. O verdadeiro amor é esse bem-querer silencioso, esse guardar o sono, esses singelos gestos que fecundam a vida. O bom de amar é que a vida se torna bela, ganha sentidos e se torna mais forte que a morte.
9.8.15
[reflexão]...verdade ou mentira
Nietzsche já nos aponta para relação conflituosa entre a verdade e a mentira...
Quem quer a verdade, com toda sua crueza? Quem aceita a mentira, como um bálsamo para a consciência e refrigério para os sentimentos?
Quero a verdade, toda a verdade, somente a verdade. Será que estou pronto para recebê-la de peito aberto? Será que posso suportar tamanho impacto? Será que carrego em mim o real desejo pela verdade?
Talvez seja melhor refugiar-me nos meandros acolhedores da ignorância, na suavidade da ingenuidade, no tentador "me engana que eu gosto".
Afinal, quem engana quem? Quem está mais preso às aparências e à comodidade do já conhecido.
Temo que ao não fazer escolhas, estas façam a mim. Temo que se eu solicitar a verdade, ela caia sobre minha existência e retire meu chão. Dúvida, dúvidas, oh malditas dúvidas que dilaceram a alma e produzem o entorpecimento.
O que significa a palavra amor? Como se mostra, se demostra ou se simula algo tão sagrado? Isso não será um luxo, com bem diz Adélia Prado?
A vida é assim: com seus prazos de validade, com sua raridade, com suas sutilezas e fragilidades. A vida é rara e nosso coração é itinerante.
Acho que já não quero nem verdade, nem mentira. Quero o sono dos justos. Quero um afago, um secreto carinho, um visível sorriso, uma conversa banal. Chega de luxos de promessas eternas, de sentimentos verdadeiros, de sinceros diálogos.
Mas, as coisas devem ser ditas. Elas estão lá fora - e aqui dentro - gritando por revelações, por auto-sabotagens, por palavras e enigmas e por decifrações. Que as palavras sejam ditas, que Pandora libere todo conteúdo de sua caixa, que o mundo entre no caos criativo em que digladiam a verdade e a mentira. É assim que tem que ser. É assim que será. Os fios das Moiras nos impelem a isso.
Aceitemos a vida com ela é. Aceitemos nossa existência. Aceitemos as palavras que nascem da boca do mundo, das entranhas do universo. É assim que é e será. Amor fati!
31.7.15
[epitáfios imaginários]...
"Toda sensação de grandeza tem seu fim aqui."
"O que queria dizer...foi dito."
"Era a única vida que eu poderia ter vivido."
"O que queria dizer...foi dito."
"Era a única vida que eu poderia ter vivido."
30.7.15
[rápidas]...
Tem horas que toda educação, civilidade e sensatez não são suficientes. Aparece aquele cara desprezível, nojento, asqueroso. Aparece aquela vontade de despejar sobre ele todos os impropérios aprendidos desde os tempos da pré-escola: xingamentos e maldições. É a hora de colocar a cabeça no lugar, respirar, rezar, pedir paciência e vociferar um bom e sonoro: Você é um BOSTA!
Pronto...a harmonia do universo foi restabelecida!
[realidades inventadas]...a menina que voltou mulher
Ela nunca tinha colocado seus pés para fora de casa. A menina de rebeldes cabelos conhecia apenas os limites de seu mundo real. Dentro de sua mente acalentava sonhos de lugares distantes, de línguas estranhas, de rostos desiguais. Sonhava sempre com a partida, não porque não era feliz, mas porque acalentava desejos de ser completa.
Um dia partiu e foi para terras além mar. Conheceu cidades, pessoas, amores. Embrenhou-se por ruas e perigos, por monumentos e gentes. Agora retorna. Em sua bagagem carrega coisas desimportantes. Em sua cabeça carrega um mundo de significações, lembranças e saudades.
A menina de cabelos rebeldes agora volta mulher.
Seja bem vinda a sua casa! Lembre-se que sempre é hora de partida!
Força Sempre!
29.7.15
[realidades inventadas]...afetos, coisas, cores e dores
Desde muito cedo, uma melodia martelava sua cabeça. O dia todo repassou mentalmente aquela música de uma banda de rock nacional. Vezes seguidas ela foi cantarolada, quase sem sentido, automaticamente.
Pela noite, antes de dormir, naquela solidão aterradora, típica de um homem abandonado por seu grande amor, recordou a frase que fazia todo sentido para uma existência em decomposição: "Quais são cores e as coisas pra te prender!"
Pouco importa de quem é a letra. Tudo que importa é que não existem coisas e nem cores que possam segurar alguém.
Dormiu e sonhou que voava: estava agora livre, pronto para novos afetos, coisas, cores e dores!
Força Sempre!
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